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7. Setor Externo Os Resultados a Partir de Setembro de 2014 Sinalizam que o Setor Externo Pode Ser Um Fator de Risco em 2015. Até agosto, as comparações mensais dos déficits em transações correntes (TC) de 2013 e de 2014 não registravam grandes diferenças. Em setembro, entretanto, a saída líquida de US$ 2,3 bilhões de lucros e dividendos e o saldo negativo da balança comercial levaram a que o déficit em TC passasse de US$ 2,7 bilhões para US$ 7,9 bilhões (Gráfico 11). A conta capital cobriu o déficit, mas as reservas, que desde março aumentavam em valores acima de US$ 1,6 bilhão, tiveram alta menor, de apenas US$ 339 milhões. O que esperar até o final do ano?

Gráfico 11: Saldo da Conta de Transações Correntes (bilhões de US$)

Fonte: Banco Central. Elaboração: IBRE/FGV.

A balança comercial em outubro foi deficitária em US$ 1,2 bilhão e o déficit acumulado no ano é de US$ 1,9 bilhão. É um déficit muito próximo ao acumulado em 2013 (US$ 2 bilhões). Como já mencionado em edições anteriores deste boletim, não se espera para este ano uma reversão do saldo, como ocorrido nos últimos dois meses de 2013. Não são previstas exportações de plataformas de petróleo e as vendas externas de manufaturas estão em queda. Além disso, mesmo que as exportações de petróleo continuem crescendo (aumento de 33% entre os meses de outubro de 2013 e 2014), isto não será suficiente para gerar superávit até o final do ano. Agora, a nossa previsão é de um déficit para 2014 ao redor de US$ 1,5 bilhão. Até setembro, as reservas acumuladas pelo saldo do balanço de pagamentos eram de US$ 20 bilhões, o que leva a uma baixa probabilidade de que o ano feche com déficit, mesmo considerando-se que as remessas de lucros e dividendos tendem a aumentar nos meses finais do ano. No entanto, se persistirem incertezas e expectativas pessimistas quanto aos rumos da política econômica, há risco de que se intensifiquem as remessas de rendas para o exterior e o saldo final seja negativo. Consideramos que este quadro seja mais provável em 2015.

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A balança comercial poderá ser Gráfico 12: Variação (%) dos Índices de Preço e Quantum das superavitária em 2015? Segundo Commodities Exportadas relatório de outubro de 2014 do Banco Mundial (Commodity Market Outlook), a desaceleração da atividade econômica na zona do euro e na China, a valorização do dólar, o aumento na oferta de petróleo e os estoques mundiais agrícolas sinalizam que os preços de quase todas as commodities irão continuar em baixa. Os índices de preços da cesta das principais Fonte e elaboração: IBRE/FGV. commodities exportadas pelo Brasil (60% da pauta) registra queda desde 2012 (Gráfico 12). Mesmo com o aumento no quantum, o valor exportado tem diminuído. Um possível impulso às manufaturas poderia teoricamente derivar da desvalorização cambial. O estímulo às exportações, entretanto, supõe mudança de preços relativos entre bens comercializáveis (BC) e não comercializáveis (BNC) em favor dos primeiros, o que não está ocorrendo, mesmo que se parta de um momento em que o câmbio estava valorizado em relação ao atual, como janeiro de 2012 (Gráfico 13). Adicionalmente, as perspectivas continuam ruins para a recuperação do nosso principal mercado de manufaturas, a Argentina. A possibilidade de uma balança comercial superavitária em 2015 irá depender, portanto, da melhora na relação BC/BNC e do aumento na produção e exportação de petróleo, que compense a queda nos preços que vem sendo registrada. Esta última hipótese tem sido considerada pelo governo. Mesmo neste caso, o saldo deverá ficar ao redor de US$ 3 a 5 bilhões. Um baixo superávit comercial ou mesmo déficit, caso não sejam confirmadas as expectativas de exportação de petróleo, pode se somar a uma menor entrada de capital e levar a saldo negativo do balanço de pagamentos no próximo ano. A menor entrada de capital se explica pela alta de juros nos Estados Unidos, mas poderá vir acompanhada de elevação de risco se não forem eliminadas as dúvidas quanto aos ajustes macroeconômicos

Gráfico 13: Relação Preço dos Bens Comercializáveis/NãoComercializáveis

Fonte: Banco Central. Elaboração: IBRE/FGV.

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(inflação e fiscal). Em suma, se não houver correções de rumo, o sinal de alerta que os resultados do setor externo têm emitido desde o ano passado irá evoluir para risco efetivo, com saída de capitais e uma balança comercial com fraco desempenho. Lia Valls Pereira