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September 27, 2018 | Author: Anonymous | Category: N/A
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GÊNEROS TEXTUAIS, TECNOLOGIAS E O ENSINO CONTEMPORÂNEO Anderson Lenin Ongaro – Faculdade da Fronteira 1 Rosana Salete Piccininn2 RESUMO: Com este artigo tem-se a pretensão de apresentar uma discussão teórica no que tange à importância dos gêneros textuais e às tecnologias no processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa e do ensino vigente. Para isto, perpassa-se um caminho que busca o início do uso da linguagem pelo homem até a contemporaneidade, destacando um novo momento histórico, social, cultural e educacional no qual a linguagem através dos gêneros textuais do meio tecnológico ou não, são indispensáveis para a aquisição do conhecimento. Para desenvolver este trabalho utilizaram-se as leituras de Marcuschi, os Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa, Bakhtin, Koch,

entre outros selecionados para endossar a temática deste artigo. PALAVRAS-CHAVE: Linguagem; Gêneros Textuais; Tecnologias. INTRODUÇÃO A linguagem, certamente, é a característica que define a espécie humana. Com ela o homem tem evoluído, acumulado e construído novos conhecimentos através dos séculos. Assim, podemos dizer que é pela linguagem que o homem se concretiza socialmente, pois expressa suas opiniões, argumentos, desejos, pontos de vista, enfim, inquietações, saberes e conhecimentos que circundam e moldam determinado grupo social. O uso da linguagem pelo ser humano pode ser feito de diversas formas, talvez até imensuravelmente, por isso, dentro de cada grupo social existe um código, um sistema mais específico e objetivo que convenciona e regulamenta o uso da linguagem, para que as pessoas possam construir e transmitir o conhecimento de modo homogêneo e, a isso, se convencionou língua. Em cada grupo, nação ou povo a língua é um sistema de convenção que abarca suas características históricas, culturais, sociais, etc., possibilitando assim, que as pessoas possam compreender os símbolos utilizados umas pelas outras no convívio social. Por isso, o domínio da linguagem através da língua se traduz na construção de sujeitos/cidadãos críticos, atuantes e participativos no meio em que vivem. Para tal o domínio da língua e a construção dos sujeitos acima pontuados, a escola, na contemporaneidade, tem assumido cada vez mais um papel determinante deixando para trás um passado de exclusão, elitização e dominação que marcou determinados períodos da história brasileira. No momento, ainda em meio a diversas problemáticas, caminhamos rumo a uma educação preocupada com os sujeitos que a fazem, ou seja, pais, professores, comunidade e, principalmente, alunos. Mas também, preocupada com a aquisição do conhecimento científico que perpassa pelo domínio da língua. Os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação apontam um caminho quando se fala em domínio da língua, pois a mesma não é um almanaque que deve ser seguido à risca por todos, longe disso, ela é feita e convencionada socialmente pelas pessoas, tanto através da escrita como da fala. Assim, a direção que se tem tomado quando nos reportamos ao ensino e ao domínio da língua, principalmente, de língua portuguesa são os gêneros textuais. Estes são a expressão de que a língua é um organismo vivo, que acontece simultaneamente e é usada das mais variadas maneiras, pois cada vez que se faz o uso da língua também se faz o uso de algum gênero textual.

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Graduando do 8º (oitavo) período do Curso de Letras – Português/Espanhol e Respectivas Literaturas da Faculdade da Fronteira – FAF, Barracão – PR, e-mail [email protected] 2 Professora orientadora, mestre em Letras pela Universidade do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Coordenadora do Curso de Letras – Português/Espanhol e Respectivas Literaturas da Faculdade da Fronteira – FAF, Barracão – PR, e-mail [email protected]

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Nesse sentido, o trabalho que aqui se apresenta tem como base os gêneros textuais, as tecnologias e o ensino destes na contemporaneidade3 que como acima foi dito é de fundamental importância para o domínio da língua. Os mesmos, na língua portuguesa, são indispensáveis para um ensino de qualidade e contextualizado com o convívio social em que estão inseridos os alunos, que são o foco da educação. Pensando assim, um ensino de língua portuguesa que faz uso dos gêneros textuais está aberto para a construção de novas maneiras de se chegar ao conhecimento e receberá todas as influências e vivências da sociedade contemporânea que se apresenta em pleno desenvolvimento social, cultural e, principalmente, tecnológico. O QUE É TEXTO? Para nos reportarmos à pergunta acima pontuada, faz-se necessário, antes de tudo, afirmarmos que o ser humano através da capacidade do uso da linguagem sempre teve a necessidade de se expressar e de se comunicar, pois sempre viveu em comunidade sendo um ser social. Posto isso, podemos dizer que o texto atividade intrínseca à linguagem, sempre acompanhou o homem desde a época das cavernas na sua tentativa de comunicação e expressão com os demais de sua espécie. Assim, podemos dizer que o texto, no princípio da civilização humana, foi o uso de grunhidos e posteriormente as pinturas registradas nas cavernas, chamadas de pinturas rupestres ou pictográficas. Segundo o blog Múltiplas Linguagens, da escritora Edinília Nascimento Cruz, autora do livro A Linguagem Pictográfica nas Cavernas do Vale do Peruaçu

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Esta temática faz parte de um trabalho maior que será apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, do Curso de Letras Português/Espanhol e Respectivas Literaturas.

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Com isso, podemos inferir que, segundo os PCN’s (2001, p. 30) “a importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento”. Então, dessa forma, podemos dizer que o texto acompanha o homem desde os primórdios da sua história, desde as primeiras tentativas rudimentares de interação. Os textos na pré-história, primeiramente, se reduziam a grunhidos e posteriormente às pinturas feitas nas cavernas, depois com a evolução da civilização e da escrita os textos foram ganhando cada vez mais características e possibilidades de acontecerem. Nessa sociedade que está em pleno desenvolvimento o uso e a produção da linguagem se tornam imprescindíveis, pois “produzir linguagem significa produzir discursos. Significa dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico” (PCN’s, 2001, p. 25). Assim, queremos evidenciar que na contemporaneidade as pessoas têm muito a dizer, com muito mais necessidades do que em outros tempos, sendo os sujeitos ao mesmo tempo emissores e receptores. Esses, dizem o que tem a dizer para seus interlocutores, mas também recebem muitos outros dizeres, numa relação que se concretiza e se estabelece socialmente. Dessa forma, para satisfazer suas necessidades de dizer, ou seja, de expressar seus pensamentos, sentimentos e opiniões, o homem busca através do texto concretizar-se perante a sociedade que o rodeia. Nessa perspectiva podemos “afirmar que o texto é um produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo e acabado, qualquer que seja sua extensão” (PCN’s, 2001, p. 25). Assim, percebemos que a premissa de um texto é ser significativo, ou seja, estar no contexto das pessoas e da sociedade que o produz, seja ele verbal ou não verbal. Nessa classificação, verbal e não verbal, estão incluídos todos os textos que conhecemos e que nos deparamos no convívio social, afinal o texto não é um produto somente da realidade escolar, devemos sim aprendê-lo na escola para fazer uso do mesmo na prática cotidiana. Visto que quando

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A linguagem através da arte nas pinturas e desenhos das paredes das cavernas é uma das mais antigas formas de comunicação humana. Essa arte é a mais eloquente forma de expressão da alma e documenta a época em que foi concebida. A partir dela, o homem se organizou em sociedade e passou a viver em grupos, marcando seu ingresso na cultura. As pinturas rupestres externam não apenas sentimentos individuais, mas também sentimentos coletivos, a vida social e a cultura de uma época, com seus costumes, crenças e filosofias.

precisamos atravessar uma rua e estamos na frente de uma sinaleira, estamos em contato com um texto; esse representado de maneira simbólica, ou seja, pelas suas cores: vermelho, amarelo e verde. Temos assim, um texto não verbal, que tem a função de passar uma mensagem, uma informação aos seus interlocutores, mesmo não fazendo uso de palavras. Já os textos verbais apresentam-se, segundo Cereja e Magalhães (2010) com a unidade básica chamada palavra; que pode ser falada ou escrita. Nos textos verbais são imprescindíveis duas características centrais, a coerência e a coesão. Para Koch (2007) a coerência é o que faz com que o texto tenha sentido para os usuários, devendo ser vista, pois, como um princípio de interpretabilidade do texto, ou seja, uma boa unidade nas ideias do que se quer comunicar. No que tange à coesão, a autora diz que: Ao contrário da coerência, a coesão é explicitamente revelada através de marcas linguísticas, índices formais na estrutura da sequência linguística e superficial do texto, sendo, portanto, de caráter linear, já que se manifesta na organização sequencial do texto. (...) A coesão é, então, a ligação entre elementos superficiais do texto, o modo como eles se relacionam, o modo como frases ou parte delas se combinam para assegurar um desenvolvimento proposicional. (KOCH, 2007, p. 13 14).

Vejamos, abaixo, alguns exemplos de textos verbais e não verbais com os quais nos deparamos no dia a dia:

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Nas representações acima podemos perceber alguns elementos que foram anteriormente elencados sobre os textos verbais e não verbais e que agora ficam claros, pois como podemos observar, nos textos não verbais prevalecem o uso de símbolos, cores, formas, desenhos, sons, etc. e nos textos verbais a mensagem que se quer passar é representada principalmente pelo uso das palavras, que são organizadas de maneira coerente e coesa visando a compreensão do texto. Assim, podemos inferir, com base nos PCN’s (2001) e Koch (2007), que quando nos referimos ao texto ou quando nos questionamos acerca do mesmo devemos pensar na premissa de que o texto é a representação concreta do uso da linguagem pelo ser humano na sua convivência social. O mesmo transmite o pensamento humano, suas ideias, conceitos, sentimentos, opiniões e inquietações que são organizados através do uso e do domínio da língua o que permite a interação social.

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www.google.com.br

Diferenciando gêneros e tipos textuais Como abordamos anteriormente, o texto se traduz na concepção prática do uso e da expressão da linguagem e da língua e sabemos que o mesmo pode acontecer de diversas maneiras. Então, é de extrema importância diferenciar os tipos textuais e os gêneros textuais, pois existem características distintas entre os mesmos e se torna imprescindível conhecê-las. Nesse sentido, quando falamos em tipo textual, Marcuschi (2007, p. 22) pontua que: Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.

Assim, os tipos textuais são concepções homogêneas advindos da língua que socialmente convencionou esses tipos textuais pelas suas características estruturantes e temáticas que através deles são expressas. Ao tratarmos da conceituação de gêneros textuais se faz necessário trazer presente o olhar de dois autores de renome que discutem esse assunto; Bakhtin e Marcuschi. O primeiro nos diz que: A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. Cabe salientar em especial a extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos) (...). (BAKHTIN, 2003, p. 262).

O segundo, Marcuschi (2007), diz que já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de um trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia. O mesmo ainda traz a definição de que: Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. (MARCUSCHI 2007, p. 22).

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GÊNEROS TEXTUAIS por 1 Realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas;

Bakhtin trata esse assunto como gêneros do discurso, porque para ele todo o texto é um discurso, ou seja, traz à tona uma intencionalidade, um posicionamento do locutor a respeito do que se quer comunicar.

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TIPOS TEXTUAIS 1 Constructos teóricos definidos propriedades linguísticas intrínsecas;

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A partir disso, duas características são de fundamental importância para a compreensão do que é gênero textual, sendo elas: a primeira, elencada por Bakhtin, ressalta a heterogeneidade no campo dos gêneros do discurso4, ou seja, não temos como quantificar ou listar os gêneros, pois os mesmos vão se adequando às necessidades das pessoas. A segunda característica, exposta por Marcuschi, traz à tona a concretude dos gêneros textuais no cotidiano social, sendo eles parte fundamental da interação entre as pessoas. Para finalizarmos essa conceituação e melhor visualizarmos as características tanto dos tipos textuais quanto dos gêneros textuais, o quadro abaixo elaborado por Marcuschi (2007, p. 23) traz uma síntese dessa discussão.

2 Constituem sequências linguísticas ou 2 Constituem textos empiricamente realizados sequências de enunciados no interior dos cumprindo funções em situações gêneros; comunicativas; 3 Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verba; 4 Designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição.

3 Sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, conteúdo, composição e função; 4 Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais, etc.

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA – UM CONTEXTO DE TROPEÇOS Quando buscamos contextualizar e conceituar, no primeiro capítulo, o que é texto foi preciso remeter-se aos primórdios da humanidade para percebermos que o texto não é algo criado na contemporaneidade. Nesse sentido, e com esse pensamento é que abordamos a temática acima, pois educação e tecnologia não são pensamentos, propósitos, práticas recentes, mas sim, sempre acompanharam o meio educacional assumindo funções diferenciadas em cada período histórico, pois segundo Lucena e Fuks (2000) a escola sempre utilizou uma tecnologia que aparece na organização do espaço escolar, na sala de aula, nos instrumentos de trabalho (quadro-negro, giz, livros, apostilas, cadernos, borrões, mimeógrafos, retroprojetores, etc.) e no privilégio da palavra e da escrita como elemento constituinte de significados. A tecnologia não se resume somente a essa era digital, computadorizada, informatizada, pois se analisarmos a concepção da palavra tecnologia perceberemos que, segundo o dicionário Houaiss (2011), ela é um conjunto de conhecimentos científicos, dos processos e métodos usados na criação e utilização de bens e serviços. Então, podemos dizer que a tecnologia sempre acompanhou o homem desde a era das cavernas à contemporaneidade, visto que normalmente uma tecnologia surge em detrimento de outra, pois visa a melhoria de alguma atividade. Assim, Lucena e Fuks (2000, p. 20 – 21) dizem que: Antes do giz e do quadro-negro, as pessoas escreviam ou desenhavam em algum suporte ou no chão, por exemplo, para tornar mais visível ou fixar algo que estavam explicando. Essa prática evoluiu criando instrumentos particulares para melhorar esta forma de expressão; primeiro o quadro-negro, depois os diapositivos, o retroprojetor, etc. Para fazer contas utilizavam os dedos, o ábaco e mais tarde a régua de cálculo. E ao se criarem estes instrumentos, estas práticas se generalizavam e ao mesmo tempo se modificavam em função das particularidades dos instrumentos criados.

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Aqui se refere exclusivamente às tecnologias da informática, mais voltada para o uso dos computadores e, principalmente, da internet que se popularizou imensamente nas últimas duas décadas, se tornando algo

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A partir do exposto, compreende-se que quando falamos em tecnologia na educação devemos levar em conta muitos aspectos e não somente a realidade atual, pois sem esse olhar mais aprofundado não é possível entender esse contexto de tropeços, descrenças e negatividade em que se encontram as tecnologias5, dessa era digital, no meio educacional. Se a tecnologia sempre acompanhou a educação

de diferentes maneiras, em seus distintos períodos históricos, por que as tecnologias da informática, oriundas de uma era digital em que nos encontramos em pleno desenvolvimento, se tornaram uma problemática, caindo no descrédito dos professores e da escola? Para responder esse questionamento Lucena e Fuks (2000) em seu livro “A Educação na Era da Internet” fazem um retrospecto crítico de como a informática e as tecnologias educacionais surgiram no âmbito escolar. Para eles, tudo começa por volta da década de 1960, quando se procurou levar para a escola um “funcionamento racional de formação de mão de obra”. Nesse contexto buscava-se suprir modelos arcaicos de educação com o uso das novas tecnologias que estavam despontando e que contribuiriam para o desenvolvimento do país. Mas o que se viu nas décadas seguintes foi justamente ao contrário, pois a supervalorização instrumental e técnica do uso das tecnologias “não alcançavam a raiz dos problemas que a educação vivia, terminou, apenas, por tornar mais operativo o modelo vigente (...)” (Lucena e Fuks, 2000, p. 15). Nesse momento as tecnologias educacionais começam a cair no descrédito e não haveria como ser diferente, pois, segundo os autores acima, é somente na década de 1980 que pessoas realmente ligadas à área da educação são chamadas para o debate das Tecnologias Educacionais. A não participação de pessoas ligadas à educação no processo de elaboração das políticas para a introdução das Tecnologias Educacionais, bem como a descontinuidade dos recursos e suportes e, por fim, a confusão em como utilizar a informática no processo de ensino-aprendizagem foram pontos fundamentais, elencados por Lucena e Fuks (2000), que acabaram constituindo uma história de tropeços e pouco aprofundamento no que tange ao uso das tecnologias na educação. Assim, podemos perceber que o uso dos computadores, bem como da internet ainda é uma área dentro da educação pouco utilizada que acaba muitas vezes no isolamento dos laboratórios de informática nas escolas. Porém, como o uso dos computadores e da internet tornou-se, nos últimos anos, indispensável na vida da grande maioria das pessoas tanto para o trabalho como para o entretenimento, essas ferramentas também abarcaram, de maneira natural, o cotidiano de professores e alunos. Como o uso dessas tecnologias tornou-se uma prática social, para Lucena e Fuks (2000, p. 25) “criaram-se as bases para uma real incorporação da informática à prática educativa em nosso país”. A tecnologia demanda novos gêneros textuais? Para buscarmos elementos que contribuam na construção de uma resposta, ou melhor, de uma argumentação, seja ela positiva ou negativa para a questão acima exposta, precisamos novamente pautar a discussão sobre a linguagem, afinal é através dessa discussão que surgirão alguns pontos fundamentais que serão o norte para a escrituração de respostas ou apontamentos para tal questionamento. Nesse sentido, os PCN’s (2001, p. 23 - 24) da língua portuguesa dizem que:

Vejamos que com base nesse argumento e no todo que já foi exposto anteriormente, podemos perceber que a linguagem é um processo que acontece na relação social entre as pessoas e o uso da mesma acompanha os diferentes momentos históricos de um povo, grupo ou sociedade. Então, partindo desse ponto de vista, podemos afirmar que o desenvolvimento, a evolução do ser humano seja na área científica, filosófica, artística, sempre demandou e demanda a criação de novas linguagens, ou seja, novos gêneros textuais que possam atender as necessidades comunicativas das pessoas, pois a linguagem, a língua e principalmente os gêneros textuais são transformacionais, maleáveis e versáteis. Dessa maneira fica claro que o desenvolvimento, a tecnologia, principalmente nas últimas décadas, tem demandado cada vez mais a evolução e a criação de novos gêneros textuais. Em seus estudos Bakhtin (2003), na obra Estética da Criação Verbal, já abordava que a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e

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indispensável no convívio social e, por isso, seu uso no ambiente escolar tem ganhado mais espaço nos últimos anos.

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A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história (...).

cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. Complexidade certamente é a palavra que exprime bem esse novo contexto histórico, político, social e educacional em que se encontra a sociedade contemporânea, pois em meio a tropeços, erros e acertos no que concerne ao uso das tecnologias na educação, ainda busca-se uma metodologia, uma maneira de trabalho que consiga abranger essa nova realidade tecnológica, vivenciada fortemente pela sociedade, que permeia a educação e precisa ser desenvolvida nas escolas como uma prática sólida e, principalmente, positiva de ensino-aprendizagem. Diz-se assim, porque as velhas bases de educação já não servem mais para a realidade atual, e essa é uma das ideias centrais encontrada nos PCN’s (2001, p. 30) que expõe: A importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento. Atualmente exigem-se níveis de leitura e de escrita diferentes e muito superiores aos que satisfizeram as demandas sociais até bem pouco tempo atrás – e tudo indica que essa exigência tende a ser crescente. Para a escola, como espaço institucional de acesso ao conhecimento, a necessidade de atender essa demanda, implica uma revisão substantiva das práticas de ensino que tratam a língua como algo sem vida e os textos como conjunto de regras a serem aprendidas, bem como a constituição de práticas que possibilitem ao aluno aprender linguagem a partir da diversidade de textos que circulam socialmente.

Assim, denota-se que vivemos em um novo contexto social no qual é imprescindível um esforço mútuo de todos os sujeitos que fazem a educação e a escola, ou seja, professores, alunos, pais, comunidade e representantes governamentais, para que o caminho da “nova educação” seja trilhado com o máximo de sucesso. Para tanto, exige-se da escola principalmente da disciplina de língua portuguesa e consequentemente de seus profissionais, um domínio de ensino cada vez maior voltado para o conhecimento e o uso dos diversos gêneros textuais. E que esses possam estar vinculados às tecnologias, pois para Tornaghi (2010) a realidade do mundo, na atualidade, requer um novo perfil de profissional e de cidadão que coloca para a escola novos desafios. Encontramos, no cotidiano, situações que demandam o uso de novas tecnologias e que provocam transformações na nossa maneira de pensar e de nos relacionar com as pessoas, com os objetos e com o mundo ao redor. Assim, podemos expor que a linguagem nesse novo contexto social, político e educacional tem exigido novas formas, ou seja, metodologias de ensino, bem como profissionais preparados para utilizar essa tecnologia que chega até as escolas como ferramenta que possibilite o contato com os novos gêneros, os novos textos que permeiam o cotidiano social, mas com a finalidade de tecer essa nova realidade tecnológica, interativa e de muita informação com o conhecimento científico e culto que é o papel principal da escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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(...) uma simples observação histórica do surgimento dos gêneros revela que, numa primeira fase, povos de cultura essencialmente oral desenvolveram um conjunto limitado de gêneros. Após a invenção da escrita alfabética por volta do século VII a.C., multiplicam-se os gêneros, surgindo os típicos da escrita. Numa terceira fase, a partir do século XV, os gêneros expandem-se com o florescimento da cultura impressa para, na fase intermediária de industrialização iniciada no século XVIII, dar início a uma grande ampliação. Hoje, em plena fase da denominada cultura eletrônica, com o telefone, o gravador, o rádio, a TV e, particularmente o computador pessoal e sua aplicação mais notável, a Internet, presenciamos uma

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Ao compreendermos a importância da linguagem nas atividades comunicativas humanas e, com isso, a pertinência dos textos nesse processo, fica evidente o papel fundamental desenvolvido pelos gêneros textuais. Estes, segundo Marcuschi (2007, p. 19) “contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia”. O autor ainda destaca que:

explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto na oralidade como na escrita. (MARCUSCHI, 2007, p. 19).

Com base nesta passagem podemos perceber que a evolução da sociedade, seja no aspecto cultural, industrial ou social e eletrônico é marcada pelo surgimento ou ampliação dos gêneros textuais. Cada fase demarca um comportamento do homem no exercício do uso da linguagem e, assim, os gêneros são imprescindíveis para que a mesma se concretize na prática social, mas também são fundamentais para que a linguagem sempre esteja em consonância com o desenvolvimento social atual e com as necessidades comunicativas das pessoas. Assim, no que tange ao ensino o trabalho com os gêneros textuais abarca a educação com o propósito de demonstrar que “é preciso abandonar a crença na existência de um gênero prototípico que permitiria ensinar todos os gêneros em circulação social”. (PCN’s, 1998, p. 24). Para a língua portuguesa o ensino galgado neste propósito ilustra um pouco o trabalho aqui apresentado, ou seja, apresenta outra face da nossa língua materna que se aproxima das práticas comunicativas sociais e busca nestas o embasamento para um ensino significativo e qualitativo. Por isso, é extremamente necessário pensarmos em gêneros textuais, tecnologias e ensino como sinônimos e não como dicotomias, pois na contemporaneidade educacional fazer das tecnologias, da internet e seus espaços interativos uma ferramenta para se chegar a construção do conhecimento é um desafio pertinente para os professores (as) tanto de língua portuguesa como das demais áreas do conhecimento. REFERÊNCIAS

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BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2003. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3º ed. – Brasília, 2001. CEREJA, W. Roberto e MAGALHÃES, T. Cochar. Português linguagens. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. CRUZ, Edinília Nascimento. A Linguagem Pictográfica nas Cavernas do Vale Peruaçu. 2009. Disponível em < http://mltiplaslinguagens.blogspot.com.br/2009/04/livro-linguagem-pictograficanas.html> Acesso em: 15 mar. 2014 GOOGLE. Imagens não verbais. Disponível em < https://www.google.com.br/search?q=imagens+não+verbais> Acesso em: 15 mar. 2014. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. KOCH, I. G. V. e TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência. 11ª ed. – São Paulo: Cortez, 2007. LUCENA, Carlos; FUKS, Hugo. A Educação na Era da Internet. Rio de Janeiro: Clube do Futuro, 2000. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A., (org.) Gêneros textuais e ensino. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. TORNAGHI, A. J. da Costa; PRADO, M. E. B. Brito; ALMEIDA, M, E, B, de. Tecnologias na educação: ensinando e aprendendo com as TIC – guia do cursista. 2ª ed. Brasília: Secretaria de Educação a Distância, 2010.

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