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January 30, 2018 | Author: Anonymous | Category: N/A
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18 de jun de 2014 - esse novo romance de Vitor. Ramil, além da óbvia relação com a linguística, abre diversas camadas, s...

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LITERATURA

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Porto Alegre, quarta e quinta-feira, 18 e 19 de junho de 2014 - Nº 12



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COSAC NAIFY/DIVULGAÇÃO/JC

meu livro anterior: teve momentos em Satolep que chorei ao escrever. Esse foi o contrário, dei muita risada”, relata. O humor é outro elemento com forte presença na obra, cuja ideia teve o cerne, sobretudo, no ambiente familiar e em memórias de sua infância. Quando criança, ele conta, criava brincadeiras a partir de jogos e trocadilhos com palavras, tal como o cão Superlativo - jogo de palavra com o fato de o cão latir muito e o conceito gramatical -, para poder entender melhor o conteúdo e se preparar para as provas. Isso foi utilizado no livro e, antes, na educação de seus filhos. “Por exemplo, para facilitar o estudo deles, quando estavam no colégio, eu pegava aquelas palavras difíceis da biologia e criava histórias”, explica. A proximidade com a linguagem é também de família. A sua esposa, Ana Ruth Moresco Miranda, é linguista e professora da área na Ufpel, o que certamente influenciou e ajudou no andamento da obra. “Por isso, dedico o livro a ela, por ser quase um mergulho em seu mundo, vamos dizer assim.” E tal como Jorge Luis Borges, escritor que tanto admira, esse novo romance de Vitor Ramil, além da óbvia relação com a linguística, abre diversas camadas, sendo a ligação com as manifestações e os protestos que surgiram no País em 2013 a mais importante. Apesar de se passar em um mundo fantasioso e em nenhum momento aparecer a palavra “humanos” na história, a existência da

Músico e escritor Vitor Ramil lança seu terceiro romance

MARCELO G. RIBEIRO/JC

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as livrarias a partir desta quinta-feira, com o novo livro A primavera da pontuação (Cosac Naify, 192 págs., R$ 32,90), Vitor Ramil deixa pela primeira vez o cenário da cidade de Satolep para se aventurar na também fictícia cidade de Ponto Alegre. E, no lugar da prosa mais poética e introspectiva de seus romances anteriores, aqui em uma narração mais direta e cheia de acontecimentos, ele explora o poder e a importância da linguagem a partir da criação de um mundo fantasioso. Contudo, está amparado no real, povoado por personagens baseados em conceitos gramaticais e linguísticos, ancorados em sentimentos muito humanos. É assim, então, que o leitor conhece o pequeno ponto que é atropelado pela palavra-caminhão, fato desencadeador de uma revolta popular por parte da pontuação, a camada da cidade descontente com o atual reinado. Apesar de lançado só agora, Ramil começou a escrever A primavera da pontuação em 2002, voltando seguidamente à sua produção ao mesmo tempo em que se envolvia com a música e saía em turnês, trabalhando em álbuns como délibáb e Foi no mês que vem. Ao longo desse período, o autor também fez muita pesquisa sobre a área linguística e gramatical, entregando a primeira versão da obra para o editor somente em 2011. “Foi uma experiência diferente do





Rafael Gloria





Ramil de



língua falada remete ao ser humano. “Na verdade, indiretamente, estou falando de nós, da nossa vida, das relações de poder, das ambições e uma das boas coincidências deste livro é que comecei a escrever muito antes das manifestações”, diz. Uma das últimas decisões durante o processo de produção do livro foi escolher o título. Para ele, a palavra primavera contempla bem toda essa movimentação contemporânea que tomou partes do mundo, como na Ásia e também no Brasil, combinando com o espírito do livro. Segundo Ramil, outra mudança de última hora, e que fez

para aproximar um pouco mais das manifestações recentes, foi afastar uma liderança para a movimentação dos pontos na história. “Aquela grande população, de junho de 2013 e que foi àss ruas, praticamente sumiu. Hoje, é normal ver muitas manifestações comandadas por sindicatos e partidos políticos”, relata. Ramil, então, resolveu tirar esse aspecto para manter a manifestação dos seus personagens mais espontânea, portanto mais idealizada, como as primeiras realizadas no País no ano passado. Impossível não traçar paralelos com a realidade, como

Ponto Alegre e Porto Alegre, pontuação e população, assim como uma bela homenagem ao professor Celso Luft, professor da Ufrgs importante para a área da linguística. “Foi muito natural o modo como fluiu a escrita ao fazer esses vínculos”, explica Ramil. O mais interessante, entretanto, é notar a diferença desse livro com os trabalhos anteriores, salientando a versatilidade do escritor, músico e compositor Vitor Ramil. “Ele é mais divertido, as frases estão em ordem mais direta, tem mais humor. E é uma faceta minha que aparece só agora.”

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