O PICO DA VIAGEM

February 5, 2017 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Evasão

O PICO DA VIAGEM Em 2014, o arquipélago dos Açores vai ser promovido, dentro da Europa, como o destino preferido da ECTAA, uma associação de agentes de viagens europeia. A Fora de Série foi até às ilhas, numa viagem onde não faltou aventura e natureza. T E X T O D E C ATA R I N A M O U R A F O T O G R A F I A D E R A FA E L G . A N T U N E S , N O S A Ç O R E S

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epois de uma caminhada nocturna – escalada, por vezes – até ao topo da montanha do Pico, somos recompensados com a vista do nascer do sol, bem acima das nuvens, enquanto recuperamos o fôlego. As quase quatro horas de subida já pouco importam. O “Piquinho”, resultado da terceira erupção deste vulcão, constitui o verdadeiro ponto mais alto de Portugal, a 2351 metros de altitude. Erguido sobre a cratera do Pico, este desafia-nos a saltar para os últimos 70 metros do nosso percurso. Apesar de o Vale dos Arrependidos se localizar na cota dos 1900 metros, é neste momento que o corpo e a mente mais divergem. Obriga a uma subida um pouco mais íngreme e a sua constituição é diferente da do Pico. A actividade vulcânica é bem mais visível, através do vapor de água que sai dos buracos. Este torna-se ainda mais intenso no cume, anunciando a chegada ao ponto mais alto de Portugal. O Pico está convenientemente localizado no grupo central de ilhas dos Açores. Se não fossem as nuvens que formam um lençol à volta da montanha, sobre as quais se estende a grande sombra do pico, seria possível ver grande parte delas. A subida começou por volta das 02h00. De lanternas na cabeça, mochilas às costas e bastões, um grupo de cerca de vinte pessoas partiu da Casa da Mon134

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tanha, a 1100 metros de altitude. Alguns optam por levar bastões, mesmo que só os usem depois, para a descida, que acabou por se revelar igualmente (ou até mais) difícil. A caminhada começou a um ritmo calmo e constante, com uma fila indiana que se iria dividir em três grupos separados. No início, o percurso é suficientemente plano para poupar às mãos o esforço da subida. Na noite cerrada, apenas é possível ver alguns centímetros à nossa frente. Quando olhamos para trás vemos uma “procissão” de lanternas e, mais abaixo, as luzes da cidade. Aos 1900 metros há uma zona plana, com um círculo desenhado com pedras no centro, local que ganhou o apelido de Vale dos Arrependidos. Agora que a cratera do Pico está à distância de 400 metros, começa o verdadeiro desafio, já com algum cansaço em cima. Os primeiros 100 são os mais íngremes de toda a caminhada, mas os restantes 300 são um caminho tranquilo, “uma praia”, promete o guia. Após alguns minutos de escalada, a praia começa a parecer, cada vez mais, uma miragem. Quando finalmente aparece, a caminhada é igualmente difícil, com os níveis de energia já dentro da reserva. Subir ao Pico é um daqueles momentos que se tornam, irremediavelmente, o ponto alto de qualquer viagem. Como passear pela muralha da China, correr em Central Park, ver a família real a desfilar em Londres, percorrer Paris de ‘Velibs’ ou fazer ‘bun-

É o ponto mais alto de Portugal. Se não fossem as nuvens que formam um lençol à volta da montanha, seria possível ver grande parte das ilhas do grupo central dos Açores.

gee jumping’ nas Cataratas Victoria. No final de uma directa e horas de caminhada, restam-nos um diploma, músculos doridos durante alguns dias, um sorriso de uma semana e memórias que duram para sempre. Os Açores vão estar na ribalta durante o ano de 2014. O arquipélago português vai ser promovido como o destino preferido da ECTAA, uma associação de

Em Angra, cada casa tem uma fachada ou uma varanda de cor diferente, pormenores que tornam a paisagem deslumbrante. Um convite a passear pelas ruas, sem pressas, sem rotas definidas.

agentes de viagens europeia. Foi a Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT), membro da ECTAA que lançou esta candidatura, que acabou por ser aceite. Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, salientou o facto de que o protocolo se baseia “num dos factores de atracção do arquipélago mais fortes, quer em mercados internacionais, quer no mercado nacional: as suas condições naturais absolutamente insuperáveis”. A convite da APAVT, a Fora de Série viajou até às ilhas, para presenciar a assinatura do acordo entre estas duas instituições, “Azores: ECTAA’s Prefered Destination”. Aceitou também o desafio de subir ao Pico, a montanha mais alta de Portugal. TERCEIRA Uma paisagem arquitectónica natural Angra do Heroísmo já foi por duas vezes considerada a capital de Portugal: uma primeira no final do século XVI, quando durante meses foi o único local do país que se opôs ao domínio espanhol e depois em 1830, durante a Guerra Civil portuguesa, quando D. Pedro IV desembarcou na ilha. O Centro Histórico de Angra do Heroísmo foi classificado como Património Mundial da UNESCO em 1983, motivo de grande orgulho para a população residente. Um sentimento que se projecta na simpatia e civismo das pessoas e na própria arquitectura da cidade. É verdade que não existe muito

trânsito, pelo menos em comparação com uma cidade como Lisboa, mas não se ouvem buzinas. Quando vêm pessoas na rua, os condutores esperam pacientemente. Esta “regra” funciona também com animais. Não se espante, por isso, se a estrada por onde esteja a passar for invadida por vacas e o condutor lhes dê prioridade. Em Angra, cada casa tem uma fachada, uma varanda ou um rebordo de cor diferente. São estes pormenores excêntricos que tornam a paisagem arquitectónica deslumbrante. Convidam a passear pelas ruas. Sem pressas, sem rotas definidas. O resultado é um conjunto edifícios coloridos, mas coesos. Todos eles num estado impecável. O facto é que não existem, salvo excepções pontuais, construções que destoem deste padrão, nem casas degradadas. Angra do Heroísmo tem uma beleza arquitectónica que se pode comparar à da baixa Lisboeta ou do Porto, excepto que as casas estão em bom estado. Os Impérios (teatros) do Espírito Santo estão dispersos por toda a ilha. Com a sua arquitectura rebuscada e fachadas de várias cores, edificam a forte religiosidade da população e fazem parte da imagem de marca da ilha. Por mais folclóricos que sejam, misturam-se harmoniosamente na paisagem urbana e rural. A actividade vulcânica é bem visível na ilha da Terceira. Dentro da Angra do Heroísmo, situa-se o Monte Brasil, um vulcão inactivo. No meio da zona florestal,

descendo uns metros do seu miradouro, encontra-se uma clareira com bancos e mesas próprias para o bom tempo e piqueniques. Aqui escondida está aquela que é possivelmente a melhor vista de Angra do Heroísmo. De pé em cima de um dos bancos, vemos a cidade, perfeitamente enquadrada dentro de uma moldura selvagem de vegetação. O Algar do Carvão, por seu lado, oferece um cenário vulcânico completamente diferente. Pode-se descer até às profundezas de um antigo vulcão que não foi totalmente preenchido pela lava. Quando se olha para cima, tentando evitar os pesados pingos de água que caem, vê-se o círculo do vulcão por onde um dia explodiu a lava. O algar é decorado por estalactites formadas por lava solidificada e por uma grande parede coberta de manchas, onde se avistam porcos e figuras religiosas, dependendo da imaginação de cada um. Continuando o percurso por diferentes locais com vestígios de actividade vulcânica, vale também a pena espreitar, no miradouro da Serra do Cume, a gigante manta de retalhos, feita de diferentes pastos, que constitui uma das maiores caldeiras dos Açores, com aproximadamente 15 quilómetros de diâmetro. Depois de percorrer a ilha, é tempo de relaxar, mergulhando nas piscinas naturais formadas pela lava e pelo mar. As hortênsias acompanham o nosso percurso entre as ilhas. Para a população mais antiga chamam-se novelãs (novelos de lã) e para a flora nativa são consideradas perigosas e invasoras. Por qualquer estrada em que passemos, especialmente as mais antigas, lá estão elas. Mais cor-de-rosa ou mais azuis, dependendo do pH do solo, estas saltam dos muros em direcção ao alcatrão. Começando o percurso na ilha da Terceira e depois de ver a harmonia que existe entre a natureza e a construção humana, não seria de espantar se tivessem sido cuidadosamente plantadas e tratadas para o prazer visual dos visitantes. Na verdade, são flores com uma enorme resistência e encontram-se espalhadas pelo arquipélago, mas não deixam de ser encantadoras. S.MIGUEL Há séculos a cozinhar debaixo de terra Chegando a Ponta Delgada, em São Miguel, notamos imediatamente uma mudança de cenário. Esta é a cidade mais desenvolvida do arquipélago. É o último dia das Festas do Espírito Santo e as ruas que vão dar ao centro, às portas da cidade, ainda se enchem de pessoas durante a noite. Nos dias seguintes, apenas as portas do mar e o café em frente à igreja Matriz de São Sebastião serão capazes de reunir uma multidão à noite. Na ilha de São Miguel a actividade vulcânica é visivelmente ESPECIAL 10 ANOS Outubro 2013 Fora de Série

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Evasão O turismo de natureza é cada vez mais desejado pelos viajantes. Os Açores, com toda a sua diversidade e charme, representam, exactamente aquilo que estes procuram. Uma imensidão de verde, dos terrenos inclinados, onde as vacas passam os seus dias a pastar, cenários vulcânicos diferentes, aldeias e vilas pitorescas, uma população genuína e acolhedora e possíveis aventuras à espera. Tudo isto rodeado por águas onde existe sempre a possibilidade de avistar baleias e golfinhos em alto mar.

países que já estão a fazer um maior aproveitamento das energias renováveis, como, por exemplo, a Islândia, onde quase todos os edifícios são aquecidos através da energia geotérmica e a maior parte da eletricidade produzida é de fontes renováveis (hídrica e geotermal). Depois de um almoço pesado, está na hora de uma visita ao parque Terra Nostra. Os mais corajosos podem mesmo mergulhar no amarelo quente da piscina de águas férreas, que se situa logo à entrada. Com mais de dois séculos de história, este parque passou já pelas mãos de vários donos. Foi Thomas Hickling, cônsul dos EUA em São Miguel que, em 1780, aqui construiu a sua residência de Verão. Mais tarde, no século XIX, o parque pertenceu ao Visconde da Praia, ao seu filho, o Marquês da Praia e, já no século XX, a Vasco Bensaude, que criou o Hotel Terra Nostra. Para desfrutar da magia do parque, convém afastar-se de qualquer grupo de pessoas, guardar o mapa e deixar-se perder no meio da vegetação. Aqui irá encontrar árvores centenárias, flores exóticas e coloridas, um coreto, becos românticos e animais esculpidos em pedra e cobertos por uma fina camada de vegetação. Atenção, que aqui, como avisa uma placa colorida, é proibido mexer nos animais. O parque tem uma dimensão ideal: suficiente para nos perdermos um bocadinho, mas não completamente. O turismo de natureza é cada vez mais desejado pelos viajantes. Os Açores, com toda a sua diversidade e charme, representam, exactamente aquilo que estes procuram. Uma imensidão de verde, dos terrenos inclinados, onde as vacas passam os seus dias a pastar, cenários vulcânicos diferentes, aldeias e vilas pitorescas, uma população genuína e acolhedora e possíveis aventuras à espera. Tudo isto rodeado por águas onde existe sempre a possibilidade de avistar baleias e golfinhos em alto mar. No próximo ano, vamos ter a oportunidade de mostrar ao resto mundo esta parte do nosso património, que está bem guardada, mesmo no meio do oceano Atlântico.

O PICO É O PONTO ALTO DA VIAGEM. É COMO CORRER NO CENTRAL PARK OU FAZER ‘BUNGEE JUMPING’ NAS CATARATAS VICTORIA. mais húmida. É aqui que estão localizadas as mais conhecidas lagoas dos Açores: a Lagoa das Sete Cidades e a Lagoa do Fogo. As fotografias tiradas a partir do miradouro da Vista do Rei, vão certamente incluir os montes de hortênsias que enquadram a vista sobre a lagoa. A viagem de cerca de duas horas até às Furnas vale a pena. Para ir da aldeia das Furnas até à lagoa das Furnas, a alternativa ao autocarro turístico ou ao carro de aluguer é um caminho perdido no meio de vegetação e atravessado por um riacho mínimo, que segue junto à estada e que se faz em cerca de 20 minutos. A partir do momento em que atravessamos a estrada e nos aproximamos cada vez mais do local onde são feitos os cozidos, dentro da terra, começamos a ver fumo. Este não vem da comida mas sim da água em ponto de ebulição. Os cozidos dos restaurantes locais são retirados por volta do 12h30, depois de terem estado lá dentro durante 6 horas. Quando o grande momento se aproxima chegam as camionetas e, num piscar de olhos, a zona fica cheia de turistas que tentam fotografar o local onde a água ferve. Um esforço vão, impossibilitado pelo vapor da água. Depois, forma-se um círculo em volta das fumarolas dos seus restaurantes e o “teatro” (muito bem ensaiado) começa. Dois homens pegam em varas, que encaixam nos dois lados da panela e içam até três por cada buraco. A carrinha está pronta para receber o carregamento, mas não antes de estes senhores posarem para as câmaras, com um grande sorriso na cara. O cheiro a enxofre não convida ninguém a ficar neste sítio por muito tempo, por isso, quando acaba o espectáculo é tempo de seguir para o autocarro ou voltar a percorrer o caminho idílico. O cozido tem um sabor igual a qualquer outro, com a diferença de que é servido com batata-doce e que, quando é colocado debaixo da terra não leva água nenhuma. Os bolos lêvedos, confeccionados noutra caldeira, acompanhados por queijo dos Açores, são uma fonte de tentação para quem está a tentar guardar espaço para as enormes doses de comida que são servidas no restaurante “O Miroma”. 136

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À primeira vista, pode parecer que este ritual de confeccionar os cozidos à portuguesa nas fumarolas é, acima de tudo, uma atracção turística. No entanto, parte das cerca de 40 fumarolas são de uso privado. Existem famílias a utilizar a energia que a terra lhes oferece. Em São Miguel, na ilha onde ocorre mais actividade vulcânica, o “grau de penetração de energia geotérmica é de 47%, enquanto no total dos Açores, no contexto global das energias renováveis, o valor é de 30%”, declarou o director do planeamento e investimento da Empresa de Electricidade dos Açores (EDA), António Furtado, à Lusa. O mesmo garante que a taxa de penetração das energias renováveis na electricidade dos Açores “vai passar dos actuais 30% para 57% em 2017”. Os Açores têm a capacidade de um maior aproveitamento dos recursos naturais e, neste momento, estão em execução dois projectos de energia geotérmica: a ampliação da central geotérmica do Pico Vermelho, em São Miguel, e a construção de uma nova central, na ilha da Terceira, que deverá estar concluída em 2015. Existem outros

LOTARIA DE BALEIAS São Miguel não é a ilha mais recomendada para a prática de actividades marinhas, como a observação de cetáceos ou ‘snorkeling’. Julho também não é a melhor altura para os ver. Não foi isso que impediu o grupo de avistar um dos gigantes mamíferos do mar, uma sardinheira, ainda por cima. A aventura vale a pena, mesmo que seja só pela viagem de barco, que mais parece uma atracção aquática de um parque de diversões. A uma velocidade estonteante, a embarcação desliza sobre a ondulação e chega, por vezes, a alturas um pouco assustadoras – seguidas, claro está, das consequentes quedas. Isto aliado à sensação de se estar em mar alto, num barco semi-rígido, na expectativa de encontrar pelo menos um cachalote. Depois de passarmos uma hora a “perseguir” duas baleias que, neste espaço de tempo, apareceram uma meia dúzia de vezes, é tempo de ir ter com os golfinhos. Já conseguimos avistar baleias – ‘check’ – podemos agora relaxar enquanto os sempre amigáveis golfinhos, às dezenas, rodeiam a nossa embarcação cheios de curiosidade.

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