Cidade das letras

March 17, 2017 | Author: Anonymous | Category: N/A
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E ali encon- tro amigos escritores, crítico literário na rua de baixo, passeando com o ca- chorro. Mas eu também gosto d...

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Joca Reiners Terron

literatura

“Do Fundo do Poço se Vê a Lua”

Cidade das letras

Radicado em São Paulo desde 1995, o cuiabano Joca Reiners Terron, 43, morador de Perdizes, considera a cidade como sua casa. É nela que se passa parte da trama de “Do Fundo do Poço se Vê a Lua”, que narra a história de dois irmãos gêmeos nascidos em São Paulo que acabam separados por uma tragédia.

Três finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura contam como a vida paulistana inspira suas obras

São Paulo se mostra de alguma forma em suas obras?

Vinte escritores brasileiros, entre estreantes e veteranos, vivem hoje o último dia de expectativa antes do resultado do Prêmio São Paulo de Literatura. A premiação, uma das mais importantes da área no país, oferece R$ 200 mil aos vencedores nas categorias Melhor Livro do Ano e Melhor Livro do Ano de Autor Estreante e é realizada pelo governo do Estado. O anúncio dos premiados ocorre amanhã, em uma cerimônia no Museu da Língua Portuguesa. A lista de finalistas, dez em cada categoria, foi divulgada no fim de maio e inclui escritores de todo o país. Entre os 20 escolhidos, sete são paulistanos –de nascimento ou adoção– ou resolveram ambientar seus livros na cidade. A sãopaulo conversou com três deles para saber como são suas relações com a cidade e como ela influencia suas obras. 42 ┆ ┆ ┆ 31 de julho a 6 de agosto de 2011

Christian von Ameln/Folhapress

1 1 Natalia Engler

Nelson de Oliveira

“Poeira: Demônios e Maldições” Paulista de Guaíra (466 km de SP), no nordeste do Estado, Nelson de Oliveira, 44, adotou São Paulo há 26 anos. Aqui, ele se tornou doutor em literatura pela USP, publicou seus mais de 20 livros e ministra oficinas de criação literária.

“Poeira” se passa em uma São Paulo fictícia. Como a cidade real influencia essa realidade inventada? Nos meus livros, a cidade real é na verdade uma cidade estranha, quase mágica. Em “Poeira: Demônios e Maldições”, a Biblioteca Mário de Andrade é um prédio altíssimo, com mais de cem andares. Para melhor representar a São Paulo real, eu gosto de exagerar e fragmentar

as avenidas e os edifícios, transformando a cidade numa pintura expressionista.

Como a cidade aparece em seus outros livros? De diferentes modos, mas nunca de maneira realista. A cidade é meu cenário ficcional predileto e é tão importante para mim quanto Dublin foi para [James] Joyce e Paris foi para [André] Breton. Eu uso muito a avenida Paulista e a praça da Sé em meus contos e romances. Mas gosto de reforçar a atmosfera às vezes sobrenatural dessas locações. O dinamismo caótico de São Paulo é fundamental para a minha ficção. “POEIRA: DEMÔNIOS E MALDIÇÕES” AUTOR: Nelson de Oliveira EDITORA: Língua Geral QUANTO: R$ 45 (400 págs.)

Andrea del Fuego “Os Malaquias”

Autora de livros infantojuvenis e de contos, a paulistana Andréa del Fuego, 36, estreou no romance com “Os Malaquias”, em que revisita um episódio obscuro de sua família e vai a Minas para inventar essa história.

A vida aqui inspira seu trabalho? A minha família toda nasceu em Minas. Mas eu sou nascida, criada, vivo aqui. Então, eu acho que, no mínimo, na pressa, na ansiedade do livro, na feitura, [a cidade] é presente, sim. Mas, como para muitas pessoas da cidade que não nasceram aqui ou que têm referências dos pais, acho que essa distância que a cidade cria de uma origem é um privilégio.

Como é sua relação com a cidade? Nos últimos tempos eu fico em casa. Faço filosofia na USP e moro relativamente perto da faculdade. Então, vivo o Sumaré [região oeste]. E ali encontro amigos escritores, crítico literário na rua de baixo, passeando com o cachorro. Mas eu também gosto da 25 de Março, de cemitério. Gosto, quando é possível, de cinema à tarde. Gosto de padaria, de feira. E gosto muito de encontrar as pessoas. Tem um bar, que é a Mercearia São Pedro, em que eu encontro a turminha –Marcelino Freire, Ivana [Arruda Leite]– e ali virou um pouco a esquina de casa. “OS MALAQUIAS” AUTOR: Andréa Del Fuego EDITORA: Língua Geral QUANTO: R$ 39 (276 págs.)

Meus livros são muito distintos entre si. Mas em alguns deles acho que a cidade chega a ser um personagem. “Hotel Hell” é uma fábula meio apocalíptica sobre a cidade. Em “Do Fundo do Poço se Vê a Lua” a cidade aparece muito. Eu não diria que a minha rotina na cidade determina qualquer coisa, mas ela me afeta de outro modo. Recentemente, eu fui obrigado a sair de casa em horários horríveis. Foi um negócio que começou a me fazer muito mal a ponto de eu ter que começar a ir a pé de Perdizes [região oeste], onde moro, até o Bom Retiro [centro], onde ocorria o trabalho, porque não aguentava mais pegar o metrô na hora do rush.

De que forma você se relaciona com a cidade em outros momentos?

Tem coisas em São Paulo, os serviços principalmente, que a gente acaba esquecendo como podem ser ruins em outros lugares. Por outro lado, existem coisas boas na cidade de que eu gosto muito, que é justamente reconhecer a beleza no feio. Gosto de andar pelos lugares decadentes e extrair algum sentido de beleza dali. Tem uma coisa cinza, tem uma peculiaridade, que só vivendo aqui para entender mesmo. “DO FUNDO DO POÇO SE VÊ A LUA” AUTOR: Joca Reiners Terron EDITORA: Companhia das Letras QUANTO: R$ 45,50 (280 págs.)

sãopaulo ┆ ┆ ┆ 43

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