bem-estar

December 23, 2016 | Author: Anonymous | Category: N/A
Share Embed Donate


Short Description

simples partida de baralho, um anel que está na família há anos e, portanto, é cheio de valor sentimental, uma relação (...

Description

bem-estar

comportamento

Despedir-se de algo é uma tarefa difícil e, por vezes, bastante dolorosa. Mas quem consegue ver com menos apego e mais otimismo, percebe que essa pode ser uma oportunidade de abrir-se para o novo e crescer por | Patrícia Affonso

perdas e ganhos Entre

Foto ShutterStock

Alguns encaram a situação de forma mais leve, quase racional. Para outros, trata-se de uma verdadeira tragédia, dolorosa e difícil de ser superada. Mas verdade seja dita, nenhum de nós em sã consciência gosta de perder: seja uma simples partida de baralho, um anel que está na família há anos e, portanto, é cheio de valor sentimental, uma relação (ainda que não esteja dando certo), um ente querido que venha a falecer... Culpa do sentimento de apego, da nossa forma de enxergar o mundo e até mesmo da cultura vigente nos dias atuais, na qual só se fala em ter, ganhar, e nunca em abrir mão ou perder algo. Já percebeu? “Vivemos um tempo em que o sofrimento é evitado a qualquer custo. E perder algo nos coloca cara a cara com esse sentimento, com a sensação de impotência e de falta de controle sobre as coisas. Ou seja, de tudo aquilo que fugimos no dia a dia”, ressalta Sâmara Jorge, psicoterapeuta, de São Paulo (SP).

60

pense leVe | MAIO 2012

bem-estar

comportamento E é bem por aí mesmo. A perda nos faz confrontar com nossas fraquezas, com o inesperado e, mais do que isso, nos leva a reinventar a nossa existência sem algo ou alguém que fazia parte dela. Tarefa essa que nem sempre é simples. “Se quando queremos mudar alguma coisa por conta própria muitas vezes já é difícil, imagine quando isso se impõe para nós, na face de uma perda? A gente se vê numa necessidade imperativa de mudar. E toda mudança requer adaptação”, diz Maria Helena Pereira Franco, professora da faculdade de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autora do livro Formação e Rompimento de Vínculos (Summus Editorial).

Por toda a vida

62

pense leVe | MAIO 2012

A difícil arte de dizer adeus

Dentre todos os casos de perda, a situação mais difícil talvez seja a morte, que representa a ausência definitiva de alguém. Mas, uma vez que todos nós vamos vivenciála algum dia — e essa é a única certeza da vida, como dizem por aí, já que somos meros mortais —, esse processo não deveria ser mais natural? Deveria, mas não acontece. “Antes do século 20, não falávamos sobre sexo. Hoje, esse tabu foi substituído pelo tema morte. Os avanços científicos — que trouxeram a cura de muitas doenças e a melhora na expectativa de vida — e o culto à juventude reforçaram a ideia de que a morte é algo que deve ser evitado a qualquer custo. Então, ninguém quer pensar e muito menos falar sobre isso”, diz Maria Helena. Aí, quando ela chega, transforma-se em um acontecimento gigantesco, com ares de inesperado e até de extraordinário, mesmo no caso de uma pessoa idosa ou que já estava doente há algum tempo. A nossa primeira lição, portanto, é tentar colocar na cabeça que a morte e as perdas, em geral, são uma condição da vida.

Os estágios

do luto Alguns autores apontam que o luto é dividido em fases, cada qual relacionada ao sentimento que a dor da perda impõe, na medida em que evolui. “Porém, esse não é um processo linear, tampouco acontece da mesma forma para todas as pessoas. A perda é uma situação vivida de forma muito pessoal”, diz Sâmara. Conheça esses estágios e o que representam.

Negação

Nessa fase a pessoa tende a não acreditar que a perda realmente aconteceu (ou irá acontecer em breve, como nos casos de pacientes com doenças terminais). É uma forma de, diante do choque, não lidar com o fato.

Revolta

A incredulidade dá, então, espaço para a raiva, que pode manifestar-se de muitas maneiras. Alguns sentem raiva de si mesmo, acreditando que poderiam ter salvado a pessoa, feito mais por ela. Outros se revoltam com o falecido (ou doente), por tê-lo abandonado, deixado desamparado.

Barganha

Uma vez que a revolta não resolve, parte-se para uma tentativa ainda mais desesperada que é negociar pela recuperação daquilo que se perdeu ou corre-se o risco de perder. No geral, a fase é marcada por promessas dirigidas a Deus ou um apego religioso muito forte.

Depressão

É nesse estágio que começam os sinais mais expressivos de tristeza, tais como lamentações, queixas, desinteresse pela vida e necessidade de ficar só.

Aceitação

Depois de todo esse processo, a pessoa finalmente adentra uma fase de compreensão frente ao ocorrido. A raiva e a depressão não são mais marcantes como antes.

Dolorido, mas não incapacitante

Não é porque perder faz parte da vida que não devemos sentir ou sofrer com isso. A dor diante dessas situações também é natural. Afinal, somos seres humanos, temos sentimentos e construímos muito da nossa identidade a partir da troca com outras pessoas e daquilo que conquistamos. “Somos seres únicos e cada um sente a perda de uma forma, tem seu próprio grau de apego. Não dá para quantificar, por exemplo, se dói mais perder um familiar ou um bem material, como um carro que foi roubado. Tudo depende da pessoa, dos seus valores, da criação e do que aquilo que foi perdido representava para ela”, pondera Cynthia Boscovich, psicóloga, de São Paulo (SP). De acordo com a psicóloga Maria Helena Pereira Franco, o importante ao se deparar com uma experiência de dor e luto é respeitar o momento e acolherse. “Não é porque você está em uma situação complicada que precisa acatar tudo o que lhe for dito ou reagir imediatamente. Respeite seu tempo e os altos e baixos que podem surgir. E entenda que a perda pede que você reflita, se volte mais para si mesma e construa novos significados para aquilo que se foi. Digo construir porque é um processo, leva tempo, não é automático”, comenta.

Cicatrizando as feridas

Adotar uma postura mais flexível, tendo em mente, por exemplo, que depois que a poeira baixar a perda pode trazer consigo uma mensagem positiva, um recomeço produtivo, também ajuda muito. Deixar algumas coisas para trás é praticamente uma exigência para que se siga em frente, se façam outras descobertas, se aprenda a lidar com novas situações. “Isso sem contar que, por vezes, quando a vida tira algo de nós, pode estar dando um sinal de que aquilo não nos servia mais, de que temos outras necessidades e aprendizados logo à frente”, diz Sâmara Jorge. Mas fique atenta: o fato de sofrer demais, de não conseguir lidar com o ocorrido, mesmo depois de algum tempo, e de deixar de fazer as coisas que fazia antes podem mostrar que é necessária a ajuda de um profissional para superar tudo isso. “Assim como não mostrar sentimento nenhum também pode ser algo preocupante, se a perda for muito significativa. A pessoa pode estar guardando ou disfarçando sua dor e ter problemas mais tarde”, finaliza Maria Helena. A terapia, nesses casos, pode trazer bons resultados.

“Quando soube que minha filha tinha morrido, para mim acabou o mundo. Foi uma perda muito grande. Parecia que, junto com ela, tinha ido metade do que fui e do que sou. Passar por isso é muito difícil, não dá para explicar o que é perder um filho. Sempre tive muita fé, por isso tenho consciência de que ela se foi porque chegou a hora. Eu nunca superei nem vou superar essa perda, mas com isso aprendi a viver um dia de cada vez e a dar valor às coisas simples. Hoje, para mim, a família vem em Fe rre primeiro lugar.”

za eu rin Ma

É curioso e até paradoxal observar como temos tanta dificuldade de nos despedirmos das coisas se, durante toda a nossa trajetória, vivenciamos experiências que exigem exatamente isso. Repare: logo que nascemos, temos que nos despedir do melhor abrigo, ao qual jamais visitaremos novamente, o útero materno. Depois, nos despedimos do colo da mãe e do pai, para começarmos a caminhar com as próprias pernas. Perdemos os dentes de leite, perdemos as roupas que não nos servem mais... A infância passa e com ela se vão os brinquedos. Chega a adolescência, a fase adulta e, nessa transição, inúmeras vezes mudamos e temos que nos despedir: ora de uma casa, ora de um colégio, de um emprego, de um amigo, dos filhos que saem de casa para tocar a própria vida. “Acontece que nosso foco está na aquisição, no sentimento de posse. Queremos

somar coisas, pessoas, lugares e vivências. No entanto, muitas vezes, para seguir em frente e conquistar o novo, precisamos deixar algo para trás. A vida é feita de ciclos e eles se acabam, se fecham”, afirma Sâmara.

ira Via na, 49

) (SP ulo a P o anos, co zinheira, Sã

Ajuda extra Em situações difíceis de perda, um auxílio para superá-la é sempre bem-vindo. Uma boa alternativa para atravessar o momento com mais serenidade é lançar mão dos Florais de Bach. “Eles não são medicamentos e, por isso, não devem substituir o tratamento médico ou psicológico. No entanto, são compostos extraídos de plantas e flores e que ajudam a equilibrar os níveis vibracionais e a abreviar o tratamento”, conta Angela Freitas, terapeuta holística, de São Paulo (SP). O ideal é marcar uma consulta com um especialista que, após uma avaliação, poderá indicar a essência mais apropriada para o seu caso. No entanto, na impossibilidade desse encontro, você pode consultar as tabelinhas presentes nos pontos de vendas. Conheça alguns florais que prestam auxílio no caso de perdas:

Walnut | Útil em épocas de grandes transformações, traz habilidade e determinação para adaptar-se às mudanças. Promove uma transição mais suave entre a situação passada e a presente.

Impatiens | Confere tolerância, paciência e calma mental. Também ajuda a amenizar a ansiedade. Honeysuckle | Ajuda a desprender-se do passado, trazendo a aceitação e compreensão dos fatos vividos. White Chestnut | Utilizado para diminuir a incidência de pensamentos negativos recorrentes, trazendo clareza mental frente ao acontecido. Star of Bethlehem | Atua trazendo força para a superação, calma e clareza mental.

View more...

Comments

Copyright � 2017 SILO Inc.